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O Teor Mineral: Exposição e Decomposição

Foto: Exposição “O Teor Mineral” na Galeria Principal do Espaço Cultural Escola de Design / Fonte: Grupo Casulo

A exposição coletiva “O teor mineral: traço, fratura e decomposição” esteve em cartaz de 12 de junho a 22 de julho, na Galeria Principal do Espaço Cultural da Escola de Design da UEMG, movimentando o circuito artístico e acadêmico com uma proposta curatorial voltada às poéticas da matéria e às camadas que compõem o território.

Idealizada pela professora Thatiane Mendes em colaboração com Sarah Coeli e Bruno Duque, a mostra trouxe à tona reflexões sobre os minerais enquanto substâncias elementares — presentes tanto como matéria-prima da paisagem quanto como metáfora da memória, do tempo e da fratura. A proposta curatorial buscou tensionar o teor mineral como campo conceitual e sensível.

O corpo de artistas reuniu nomes como Raiany Costa, Rafael Fernandes, Ginna Jorge, A Tutu, Wel Soares, Henrique Detomi, Aline Moreno, Marlon de Paula, Leandro Gabriel, Ariel Ferreira, Ambuá, Morgana Mafra, Igor Reis e o duo .:grão (Gabriela Sá + Ícaro Moreno), que apresentaram obras em diversos suportes, criando um campo expandido de escuta e ressonância entre corpo, território e matéria.

Foto: Obra sem tírulo (2024) de Raiany Costa / Fonte: Grupo Casulo

Foto: Obra Oferenda (2013) de Ariel Ferreira / Fonte: Grupo Casulo

Foto: Obra Pedras Náufragas (2016) do duo grão / Fonte: Grupo Casulo

Dentre os destaques, a professora Thatiane Mendes, também como artista expositora, apresentou em parceria com A Tutu a obra “Frankilina – Carta 1, 2025”, composta por crochês tingidos com minério de ferro, hastes de alumínio e gesso. O trabalho entrelaça o sensível ao industrial, propondo um corpo híbrido entre gesto, extração e afeto — matéria que pulsa entre memória e decomposição.

Foto: Obra Frankilina – Carta 1 (2025) de Thatiane Mendes e A Tutu / Fonte: Grupo Casulo


Diálogo, presença e reverberações

Durante seu período em cartaz, a exposição promoveu uma série de bate-papos com os artistas, encontros que proporcionaram trocas profundas sobre os processos criativos, os temas abordados e os modos de escuta e produção. A mostra também integrou a programação do Noturno nos Museus, evento que ampliou a circulação e o alcance da exposição.

“O teor mineral” afirmou-se como um exercício curatorial sensível e potente, articulando o fazer artístico com reflexões contemporâneas sobre o território, os atravessamentos políticos e os resíduos da história. Um projeto que permanece reverberando — em fraturas, em camadas, em traços.

Foto: Roda de Conversa com artistas e convidados (Noturno nos Museus 2025) / Fonte: Antonnione Leone (AsCom ED UEMG)

Foto: Roda de Conversa com artistas e convidados (Noturno nos Museus 2025) / Fonte: Antonnione Leone (AsCom ED UEMG)

Foto: Roda de Conversa com artistas e convidados (Noturno nos Museus 2025) / Fonte: Antonnione Leone (AsCom ED UEMG)


Entrevista com a professora Thatiane Mendes

Durante o período em que a exposição esteve em cartaz, a professora Thatiane Mendes concedeu-nos uma entrevista exclusiva. Na conversa, compartilhou os caminhos conceituais que fundamentaram a curadoria, refletindo sobre a potência poética dos materiais e os atravessamentos entre arte, território e memória que moveram O teor mineral. A entrevista completa pode ser lida a seguir:

Foto: professora, artista e curadora Thatiane Mendes / Fonte: Grupo Casulo

Em O Teor Mineral, matéria e linguagem se implicam. Como você compreende os materiais enquanto operadores de sentido, memória e gesto poético?

A partir da curadoria, assumimos o desafio de buscar entender o que são os minerais — não apenas em sua dimensão física, mas como operadores de subjetividades, desvelando suas várias possibilidades de interpretação. Em O Teor Mineral, matéria e linguagem se implicam. Cada obra, cada artista, apresenta muitas camadas subjetivas que ampliam o entendimento da matéria mineral para além da substância.

Iniciamos a pesquisa nos perguntando quais artistas — e quais obras — já traziam o tema mineral em suas investigações. Foi assim que chegamos a trabalhos como o de Aline Moreno, que propõe a geometria do mineral como linguagem formal e simbólica; Henrique Detomi, que trabalha a ausência e o esvaziamento como forma e discurso sobre a paisagem e a mineração — uma pesquisa que dialoga com as obras de Ariel Ferreira, cujos trabalhos apresentam uma metodologia que torna visível a densidade política, ainda que acompanhada por um olhar sensível e poético sobre o território que habitamos. Wel Soares apresenta a luz em tons vítreos, translúcidos e cristalinos em suas esculturas, enquanto o Duo Grão desenvolve uma pesquisa que envolve afeto, memória e o arquivo de uma cidade mineirada.
Muitos dos artistas que participam desta exposição trazem um olhar bastante próprio: são pesquisas situadas, que partem da observação de seus entornos, assistidas por eles e elas. Em outros trabalhos, como os de Ginga Jorge, Murmúrio das Pedras é uma tentativa de estabelecer uma “conversa” com as pedras — esse composto de muitos minerais. Talvez o entendimento desse elemento parta disso: de se silenciar, de simplesmente observar, como propõe Rafael Fernandes Alves.
Já no trabalho de Bruno Duque, o mineral é investigado como elemento de transformação, por meio da união química de substâncias que faz com que o minério de cobre seja corroído e transmutado. A busca por compreender o tempo mineral aparece no trabalho de Raiany Costa — um tempo que não conseguimos acompanhar enquanto seres humanos. O que vivenciamos é, muitas vezes, uma fração mínima. Ainda assim, nossa ação sobre a paisagem deixa rastros, como a fina poeira vermelha que cobre as casas à beira das estradas. Ela se torna visível nas paredes das ampulhetas de Raiany e também nas pequenas partículas de minério de ferro oxidado impregnadas nas superfícies têxteis da obra que apresento em colaboração com Tutu.

 

Como artista, curadora, professora e pesquisadora, você percebe essas instâncias como coexistências harmônicas, intercaladas ou tensionadas em dissolução?

Tento fazer com que essas instâncias coexistam em movimento, de forma fluida. Para mim, a pesquisa alimenta todas essas atuações — principalmente a prática artística. Acredito que a prática artística é uma forma de corporificar a pesquisa. A docência, por sua vez, no meu modo de ver, demanda o compartilhamento de algo que já passou por esse envolvimento com a investigação — tanto na pesquisa quanto na prática poética (isso, para mim, é claro, não é uma regra). Ela exige escuta, troca, abertura.
Já a curadoria surge como um modo expandido de pensar junto. É também uma forma de estabelecer diálogo — com a comunidade artística e com o público que visita os espaços expositivos.
Enfim, acredito que são funções que se comunicam e, em certos momentos, se tencionam — e não é fácil. Mas é justamente nessas fricções que surgem as questões mais ricas. Tento acolher essas sobreposições sem diluí-las, permitindo que cada uma dessas instâncias atue em seu próprio ritmo.

 

Do impulso conceitual ao gesto curatorial, como se deu a travessia da ideia à forma? Quais os percalços, do campo logístico ao ético, que atravessaram esse processo?

A ideia curatorial — realizada em colaboração com Bruno Duque — nasceu do desejo de investigar os minerais não apenas como substância física, mas como matéria simbólica, sensível e de memória. Ao pensar o mineral no contexto de Minas Gerais, buscamos abrir espaço para reflexões sobre sua presença em nossas vidas — seja no cotidiano, no imaginário, na economia ou nas práticas artísticas. O que nos interessou foi a maneira como os artistas trazem o mineral como operador de linguagem.
Do ponto de vista logístico, enfrentamos os desafios recorrentes de um projeto expositivo em um espaço público e tombado: negociação de cronogramas, adequação das obras ao mobiliário e às condições do local, entre outros ajustes. Como integrante da equipe de gestão do Espaço Cultural da Escola de Design (ECED), existe um desejo constante de que esse lugar se consolide como espaço de diálogo com a arte e a cultura contemporânea.
No campo ético, nossa atenção esteve voltada para como apresentar essas materialidades de forma sensível — mas também crítica — considerando as urgências e realidades presentes nas pesquisas dos artistas. Muitas dessas obras refletem as contradições ecológicas e sociais provocadas pela mineração, sobretudo diante das catástrofes recentes em Minas Gerais. Esse discurso está presente, de algum modo, nos trabalhos de Ariel Ferreira, Henrique Detomi e Marlon de Paula.
A curadoria buscou, acima de tudo, escutar as camadas subjetivas e poéticas que os artistas trouxeram, cuidando para que essas subjetividades abrissem espaço para a complexidade das relações entre matéria, território, corpo e criação.

 

O Casulo articula arte, ciência e sustentabilidade. Em que medida essa proposição reverbera nos princípios ético-estéticos de O Teor Mineral?

O Casulo é um grupo de pesquisa artística que articula práticas estéticas, saberes científicos e ecologias sensíveis. Possui projetos em desenvolvimento — e outros já realizados — com apoio da FAPEMIG e do CNPq. As pesquisas desenvolvidas pelo grupo dialogam com questões relacionadas à ciência, à arte e à ecologia. Essa abordagem atravessa O Teor Mineral ao propor um olhar ampliado para os materiais — um olhar atento ao tempo, ao cuidado e às relações com o território.
A exposição convida o público a refletir sobre como nos conectamos com a terra, seus elementos e seus ciclos, abrindo um campo de pensamento político, ético e estético sobre essas relações.
A sustentabilidade, aqui, é entendida como prática sensível: trata-se de preservar, mas também de escutar, repensar ritmos e, principalmente, imaginar outros modos de fazer. As obras não oferecem respostas prontas, mas provocam deslocamentos.
O grupo Casulo integra o Centro de Estudos em Gemas e Joias, no Laboratório de Experimentações Vestíveis da Escola de Design. E estamos orientando nossas pesquisas justamente para estabelecer relações entre o corpo e as matérias que constituem o território em que habitamos.


por Antonnione Leone (AsCom ED UEMG)

Professor da ED desenvolve ações em inteligência artificial com entidades da indústria da moda

No dia 27 de março, o Professor Wadson Gomes Amorim, coordenador do projeto “DIA – Design com Inteligência Artificial”, ministrou uma aula magna na sede da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG). A ação ocorreu durante a reunião da Câmara da Moda, uma instância consultiva vinculada à FIEMG, que atua buscando promover o desenvolvimento e a competitividade da indústria do vestuário, calçados e acessórios em Minas Gerais.

FOTO: Aula do professor Wadson na Câmara da Moda / FONTE: Arquivo Particular de Wadson Amorim

Presidida por Rogério Vasconcellos, a Câmara da Moda da FIEMG, reúne lideranças dos segmentos de vestuário, bolsas, calçados, joias, bijuterias e têxteis. Seu objetivo é promover estratégias colaborativas voltadas ao fortalecimento do setor em Minas Gerais.

Em sua apresentação, Amorim abordou os impactos da inteligência artificial (IA) no design de moda e as transformações que essa tecnologia vem promovendo na cadeia produtiva.

O professor apresentou o projeto de pesquisa e extensão DIA, que surgiu a partir de outro projeto: o Oficina DESSU, que envolve experimentações em tecnologias aplicadas ao design de superfície. Ambos são desenvolvidos no Centro de Estudos em Teoria, Cultura e Pesquisa em Design (Centro T&C) da Escola de Design.

O projeto DIA investiga o uso de ferramentas de IA nos processos de criação e desenvolvimento de produtos de moda. E tem ainda o propósito de democratizar o acesso ao conhecimento por meio de metodologias ativas de ensino, aliando experimentação prática a uma abordagem crítica e ética no campo das tecnologias emergentes.

FOTO: imagem de divulgação do projeto “DIA – Design com Inteligência Artificial” / FONTE: Arquivo Centro T&C ED UEMG

Através de uma parceria estratégica com o Sindicato das Indústrias do Vestuário de Minas Gerais (Sindivest-MG) o projeto também tem promovido workshops para profissionais da indústria, oferecendo capacitação técnica e acesso a conteúdos atualizados sobre inovação no setor. Dessa forma incentiva a troca entre saberes acadêmicos e os desafios enfrentados cotidianamente pelas empresas.

FOTO: Workshop do professor Wadson na Sindvest-MG / FONTE: Arquivo Particular de Wadson Amorim

Iniciativas dessa natureza contribuem para alinhar a formação acadêmica às demandas concretas do mercado, estimulando uma cultura de inovação constante e consolidando a Escola de Design como referência na investigação aplicada das relações entre design e tecnologia no cenário regional e nacional.

 

por Charles Bicalho (AsCom ED UEMG)

Editorial: Antonnione Leone

Professores da Escola de Design participam de publicação internacional sobre audiovisual

O professor Charles Bicalho, da Escola de Design da UEMG, é um dos destaques da obra ALMA – Antropofagia, Literatura, Modernismo e Audiovisual, publicação internacional fruto de parceria entre a UFSCar, a Universidade do Algarve (Portugal), a UEMG e o Polo Audiovisual da Zona da Mata. A coletânea reúne ensaios, artigos acadêmicos e entrevistas com artistas e intelectuais de diversos países de língua portuguesa.

A participação da UEMG no projeto contou com a representação do professor Cláudio Santos Rodrigues, também da Escola de Design, que integrou o Conselho Científico e a equipe organizadora do livro. Além disso, ele foi um dos responsáveis pela condução da entrevista com Bicalho, na qual o professor compartilha sua trajetória de mais de duas décadas junto ao povo indígena Maxakali, no interior de Minas Gerais.

FOTO: Capa do livro Alma / FONTE: Universidade do Algarve

O diálogo, registrado no capítulo intitulado “Antropofagias tecnológicas: a cultura audiovisual dos Maxakali”, contou ainda com a participação dos professores Jorge Carrega (CIAC/Universidade do Algarve) e Pedro Varoni (UFSCar). Na conversa, Bicalho revisitou o início de seu trabalho com as comunidades indígenas nos anos 1990, quando desenvolveu materiais didáticos em língua Maxakali para uso nas escolas indígenas.

“Primeiro, eu passei 10 anos produzindo exclusivamente livros, resultando em 10 livros, e depois eu passei a produzir os filmes”, relembra o professor, revelando a transição que mais tarde desembocaria nos premiados curtas-metragens animados da Pajé Filmes, produtora da qual é fundador.

Ao discorrer sobre a natureza ritualística e multimodal da cultura Maxakali — que integra canto, dança, culinária, pintura e narrativa oral — o professor destacou: “A fonte de tudo é o ritual, que lança mão de todas as linguagens, e esse é o modo de expressão tradicional deles.” Para ele, o trabalho audiovisual com os Maxakali reflete essa essência, rompendo com fronteiras ocidentais entre ficção, documentário, arte e etnografia.

Bicalho também apontou uma diferença fundamental entre os modos de produção indígena e ocidental: “O mundo indígena não tem essa preocupação que a gente tem em separar as coisas. Não se preocupa em separar a ficção da realidade; tudo está misturado.” Esse princípio ressoa em suas produções audiovisuais, como os curtas Konãgxeka: O Dilúvio Maxakali (2016) e Mãtãnãg, A Encantada (2019), que ele considera simultaneamente documentais e ficcionais — uma expressão fiel da cosmologia Maxakali.

Para além da técnica, Charles Bicalho enfatizou o aprendizado humano e existencial proporcionado por essa convivência:

“Acho que o mundo indígena nos ensina isso ou nos coloca em contato de novo com isso que a gente perdeu. A gente tem isso também, mas, por causa do artificialismo da nossa modernidade, a gente perde isso um pouco; eu reaprendi isso com eles.”

A entrevista completa está disponível no e-book, que reúne intelectuais importantes como Gilberto Gil, além de pesquisadores do Brasil, África e Europa em reflexões sobre modernismo, cultura audiovisual e antropofagia cultural. A obra foi organizada por Daniel Laks, Pedro Varoni e Vanice Sargentini (UFSCar) e Jorge Carrega (Universidade do Algarve).

👉 Acesse aqui o e-book completo gratuitamente.


Trilogia Hãmnõgnõy: cinema de alma e território

A rica trajetória de Charles Bicalho junto aos Maxakali desdobrou-se também na criação da trilogia de animações Hãmnõgnõy — termo que, em língua Maxakali, designa o “lugar onde termina uma terra e começa outra”, ou o horizonte, onde habitam os espíritos yãmîy.

A trilogia é composta pelos filmes:

  • Konãgxeka: O Dilúvio Maxakali (2016),

  • Mãtãnãg, A Encantada (2019),

  • Kakxop pahok: As Crianças Cegas (2025).

As produções unem narrativas tradicionais, desenho, canto e memória ritualística dos Maxakali, resultando em obras que ressoam em festivais nacionais e internacionais, fruto da colaboração direta com realizadores indígenas como Sueli Maxakali e Shawara Maxakali.

O projeto conta com apoios como o edital PROPPG/UEMG e Rumos Itaú Cultural, além do reconhecimento como importante experiência de cinema indígena contemporâneo no Brasil.

👉 Os filmes da Pajé Filmes podem ser assistidos no canal da produtora no YouTube.

FOTO: Oficinas junto ao povo Maxakali para a produção da animação Kakxop Pahok / FONTE: Pajé Filmes


por Antonnione Leone (AsCom ED UEMG)

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